Na idade avançada a obesidade e a menor força muscular, termo conhecido como obesidade sarcopênica, está associada não unicamente a limitação funcional mas também ao aumento da mortalidade.
Dentre os vários mecanismos associados a perda da força muscular com o envelhecimento, mais recentemente tem sido destacado o papel das alterações da mitocôndria da fibra muscular neste processo. De acordo com a proposta de alguns autores, o desuso crônico leva a um aumento na suscetibilidade da mitocôndria à apoptose (morte celular programada) o que resultaria numa elevada taxa de atrofia muscular (diminuição do tamanho do músculo). Com este mecanismo é possível sugerir que o exercício pode reduzir a morte celular mediada pela mitocôndria. O envelhecimento está associado com diminuição na capacidade oxidativa do músculo e a inatividade física contribui também para este efeito negativo. Há um efeito deletério importante na diminuição da síntese de proteínas mitocondriais, alteração da remoção de proteínas mitocondriais com dano oxidativo e redução da autofagia mitocondrial.
A atividade contrátil ou o exercício pode servir como uma intervenção terapêutica para combater o início dos eventos apoptóticos que acontecem durante a sarcopenia (perda de massa muscular e força) induzida pela idade, doenças musculares ou desuso crônico muscular. Efeitos mediados pelas adaptações acontecem dentro da mitocôndria levando a redução na liberação de proteínas pro-apoptóticas e atenuação na produção nas substâncias reativas ao oxigênio (ROS) dentro da mitocôndria. Também têm sido evidenciados efeitos benéficos da atividade física na função da mitocôndria medida pelo aumento de atividade das enzimas mitocondriais e da taxa de síntese de ATP.
Outro aspecto interessante em relação ao músculo durante o processo de envelhecimento é o relacionado à fadiga muscular. De acordo com as últimas evidências, a combinação de diminuição na taxa de descarga de unidades motoras (neurônio motor e as fibras musculares que ele inerva), propriedades de contração muscular mais lenta e uma maior dependência do metabolismo oxidativo sugerem que o músculo idoso estaria mais adaptado a resistir à fadiga do que o músculo mais jovem.
Desde o início da década de 2000 pesquisadores vêm analisando a relação entre exercício e a função cognitiva em modelos animais e em humanos, destacando que o exercício pode elevar o BDNF (brain-derived neurothropic factor) e outros fatores de crescimento, estimular a neurogênese, mobilizar a expressão de genes que beneficiam o processo de plasticidade cerebral, aumentar a resistência do cérebro ao dano, melhorar a aprendizagem e o desempenho mental. Alguns estudos experimentais demonstraram o efeito do exercício na regeneração axonal de neurônios e na indução de neurogênese (formação de novos neurônios).
O efeito de treinamento de força muscular na cognição de idosos também tem sido analisado por alguns autores. Os achados destacam a relação entre a perda de força muscular e o risco de demência, mas por outro lado o impacto positivo do aumento de força muscular na memória e nas funções cognitivas (memória de curto e longo prazo, inteligência, concentração, atenção). Alguns autores analisaram o efeito do exercício nos níveis de BDNF, encontrando aumento nos níveis com o exercício agudo, mas sem efeito algum com o treinamento de resistência. Outros destacam o efeito benéfico de um programa de atividade física na capacidade funcional de indivíduos com Doença de Alzheimer.
Os efeitos agudos do exercício nos aspectos cognitivos também têm sido analisados mostrando que o processo cognitivo é afetado de forma diferente pelo exercício agudo. O tempo de reação e os ajustes do controle cognitivo mostraram ser mais rápidos quando a tarefa cognitiva foi realizada simultaneamente com o exercício. Da mesma forma, o exercício parece ter um efeito benéfico nas funções executivas de idosos com diagnóstico de doença de Parkinson.
De acordo com as revisões sobre os efeitos do exercício aeróbico e de resistência na cognição de idosos adultos, vários mecanismos estão envolvidos na melhora dos aspectos cognitivos e da saúde mental do individuo. Para alguns autores a neurogênese do hipocampo é mais um evento qualitativo do que quantitativo e é um claro exemplo da plasticidade celular. A atividade física, especialmente a realizada em longos períodos de tempo, pode indicar para o cérebro um aumento na chance de experiências ricas em complexidade, que provavelmente beneficiem mais novos neurônios. Desta forma os autores consideram que a atividade física não é isoladamente benéfica para o cérebro, mas sim no contexto dos desafios cognitivos que a mesma impõe.
Assim de qualquer forma sendo pelo músculo ou pelo cérebro os estudos continuam indicando que vale a pena o investimento em atividade física (seja aeróbica ou de exercícios de resistência) para a saúde muscular e em especial cerebral e cognitiva!
Dra. Sandra Matsudo
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