Regulação Glicêmica
Regulação
glicêmica significa o controle da concentração de glicose na corrente sanguínea.
Após uma refeição, a glicemia sobe alcançando seu pico na primeira hora
pós-prandial. Os valores, em pessoas saudáveis, não diabéticas, giram em torno
de 120 a 180 mg/dl.
Mecanismos
de FEEDBACK entram em ação para controlar os valores de glicose no sangue.
Nesse sentido, após duas horas da refeição, haverá a normalização dos valores
glicêmicos. A glicemia sofre influência de fatores emocionais, hormonais e
genéticos, tendo na insulina o seu principal agente controlador.
Qual
a importância da manutenção da glicemia? A glicose é um substrato energético
nobre, fundamental para o bom funcionamento do sistema nervoso. O cérebro não é
capaz de utilizar outro substrato energético que não seja a glicose de forma
imediata. Para que isso aconteça é necessário um período de jejum prolongado ou
inanição para que o cérebro produza enzimas para metabolizar corpos cetônicos,
que é um produto do metabolismo “parcial” das gorduras.
Importância
da manutenção da Glicemia:
Combustível indispensável para o cérebro
(o cérebro não consegue sintetizar glicose);
O estoque de glicogênio do cérebro é
insuficiente (dura poucos minutos);
A glicose é a única fonte de energia
para as hemácias e alguns outros tecidos como as gônadas germinativas.
A
glicemia é resultante de 02 fatores, a velocidade de entrada da glicose na
corrente sanguínea, assim como, a sua velocidade de saída, que está relacionada
com a sua utilização. O organismo consegue a glicose via alimentação e pela
produção endógena (gliconeogênese e glicogenólise). Sendo assim, a concentração
de glicose plasmática está relacionada a dois fatores: captação e utilização.
Formas
pelas quais o organismo capta glicose:
Absorção (intestino)
Produção endógena
o
Glicogenólise hepática (que é a quebra da
molécula de glicogênio)
o
Gliconeogênese (formação de glicose a
partir de substâncias não carboidratadas, tais quais, aminoácidos, ácido
lático, glicerol e piruvato).
O
aumento da glicemia pós-prandial está relacionado com o escape esplênico, ou
seja, a glicose que é liberada pelo fígado após absorção. 70% da glicose fica
retida no fígado para ser armazenada na forma de glicogênio, formação de
gordura e colesterol (lipogênese), formação de proteínas (proteogênese). É
também utilizada pelos hepatócitos como fonte de energia. A glicose que
“escapa” do fígado é a responsável pela hiperglicemia pós-prandial e, é
utilizada pelo cérebro (15%), músculo (12%), hemácias (1%) e adipócitos (3%).
Duas horas após uma refeição a glicemia é normalizada.
Glicose que escapa do
Fígado:
1. Consumo
(cérebro, hemácias, músculo, tecido adiposo e etc.)
2. Causa
hiperglicemia pós-prandial que normaliza em 2 horas
Destino da glicose no
fígado:
1. Glicogênese:
conversão em glicogênio (100 a 150g);
2. Lipogênese:
Síntese de gordura e colesterol, que são exportados na forma de VLDL;
3. Proteogênese:
síntese de aminoácidos não essenciais, síntese de proteínas.
Reserva de substrato energético:
1. Gordura
(triglicerídeos): aproximadamente 20% do peso corporal;
2. Glicogênio
hepático: 100 a 150g (regulador da glicemia)
3. Glicogênio
muscular 350 a 450g (uso interno do músculo)
IMPORTANTE: O metabolismo anaeróbico da
glicose no músculo forma ácido lático, que serve como matéria prima para
gliconeogênese.
A
má-nutrição e suas correlações clínicas:
o
Obesidade
Diabetes
Mellitus, dislipidemias, Hipertensão, esteatose hepática........
o
Desnutrição
o
Doenças imunológicas (AIDS, câncer,
tuberculose....)
o Kwashiokor (Desnutrição)
o Deficiências vitamínicas:
Beribéri (Deficiência de
vitamina B1)
Escorbuto (Deficiência
grave de Vit. C)
Anemia
Ciclo
jejum-alimentação
Consumo
de combustíveis é contínuo. Ingesta é intermitente. Isso requer armazenamento
de combustíveis durante a ingesta, para uso entre refeições.
Esse
parágrafo acima resume por que temos a necessidade de ter estoques de energia
no nosso organismo. O metabolismo não para, ele é contínuo. O cérebro trabalha
a todo instante processando informações e enviado-as, o músculo cardíaco
contrai e relaxa sem parar, as glândulas endócrinas produzem hormônios durante
as 24 horas, enfim, para realizarmos a maioria dos trabalhos fisiológicos
necessitamos de energia. Como só nos alimentamos em determinados períodos do
dia, o organismo utiliza a energia das reservas biológicas no tecido adiposo e
nos estoques de glicogênio para realizar satisfatoriamente as suas funções
O
ciclo jejum-alimentação pode ser dividido basicamente em três etapas, a saber:
1. Período
absortivo (etapa de armazenamento)
2. Pós-prandial
imediato (jejum entre as refeições)
3. Pós-prandial
tardio (jejum prolongado, podendo chegar a inanição – fase 4?)
Vamos
resumir cada uma dessas etapas do ciclo jejum-alimentação. Lembrando que antes
do processo de absorção, passamos pelo período prandial (ingesta de alimento)
que requer um complexo e eficiente processo digestivo dos nutrientes.
Cada
uma das macromoléculas possui características próprias no processo de digestão.
As gorduras são de difícil digestão, por isso que precisamos de mais tempo para
que o processo ocorra plenamente. É de difícil digestão por ser pouco solúvel
na água dos sucos digestivos. Requer sais e ácidos biliares. A absorção é na
forma de quilomícrons (lipoproteína responsável por transportar a gordura
ingerida na dieta, ou seja, gordura exógena), após absorção os quilomícrons são
liberados nos capilares linfáticos.
Os
carboidratos começam a digestão na boca com a participação da α-amilase e
continua no intestino delgado, no qual as secreções pancreáticas e as enzimas
intestinais reduzem (digerem) os polissacarídeos (amido) a dissacarídeos, que
por sua vez são reduzidos a monossacarídeos, glicose, frutose e galactose
(hexoses). Os monossacarídeos são então absorvidos pela mucosa intestinal. No
final dos processos todo carboidrato é transformado em glicose.
As
proteínas são catabolizadas até aminoácidos pelas proteases (enzimas que
digerem as proteínas).
Características
das fases do Ciclo Jejum-alimentação:
1.
Período
absortivo (etapa de armazenamento – anabólica)
Absorção de
carboidratos e proteínas pelo sangue portal; lipídeos pelos capilares
linfáticos e transportados pelos quilomícrons.
Os carboidratos são
absorvidos principalmente como glicose, os lipídeos como ácidos graxos e as
proteínas como aminoácidos.
O período absortivo é
conhecido como fase anabólica (síntese de substâncias).
Processos anabólicos:
glicogênese, lipogênese e proteogênese.
70% da glicose fica retida no
fígado e 30% escapa para circulação sistêmica (escape esplâcnico).
Destino da Glicose nos tecidos
periféricos
Glicose
oriunda do escape esplâcnico:
Glicose:
combustível universal, único combustível das hemácias e principal combustível
do cérebro.
O
cérebro oxida a glicose até CO2
E H2O + ATP. Consome cerca de 150g/dia, ou seja, 15% da glicose
ingerida (50% do escape esplâncnico normal).
Hemácias: glicose
é seu único combustível, por não ter mitocôndrias. Sendo assim, as hemácias só
podem obter ATP de modo anaeróbico, via fermentação.
A
glicose é o único substrato capaz de fornecer energia ATP anaerobicamente. Sem
glicose a hemácia morre (HEMÓLISE).
Músculos: faz
estoque intracelular de glicose na forma de glicogênio para uso próprio (pela
própria fibra muscular que armazenou).
Esse
glicogênio muscular é muito importante durante o exercício físico,
principalmente os de alta intensidade, explosão muscular (que é essencialmente
anaeróbico).
Músculos
precisam de GLUT4 para captar glicose. O GLUT4 é o único transportador de
glicose insulinodependente.
No
entanto, o GLUT4 pode ser transportada para a superfície celular via contração
muscular, devido ao aumento da concentração de cálcio citoplasmática que ativa
a cascatas que resultam na colocação do GLUT4 na superfície da célula muscular.
Esse
fenômeno supracitado da translocação do GLUT4 para a membrana celular, explica
um dos papéis do exercício físico na melhora do controle glicêmico, inclusive
com redução nas doses de insulina para os insulinodependentes.
Panículo adiposo: adipócitos
têm baixa taxa metabólica; apesar disso, consomem uma quantidade razoável de
glicose.
O
tecido adiposo não consegue captar glicerol, então, são obrigados a captar
glicose e sintetizar a partir desta o glicerol necessário para gerar
triglicerídeos (gorduras) e desse modo, manter a gordura “presa” no panículo
adiposo.
Estado de jejum:
No
período absortivo, o pico de glicemia ocorre em geral 1h após a refeição. A
partir daí, cai a glicemia, que é consumida no metabolismo e, sobretudo
estocada na forma de glicogênio e gordura.
O
jejum é dividido em imediato (horas), tardio (dias) e inanição (semanas).
A
manutenção da glicemia em níveis normais é responsabilidade conjunta do fígado
(principal regulador) e rins.
Fígado
produz glicose mediante glicogenólise e gliconeogênese, enquanto os rins fazem
apenas gliconeogênese.
A
capacidade de produzir glicose é inteiramente influenciada pelos hormônios
insulina (hipoglicemiante “regulador”) e contra-regulatórios.
2.
Período
pós-prandial imediato (jejum entre as refeições)
Cessam
todos os processos anabólicos (glicogênese, lipogênese e proteogênese).
Ocorre
intensa GLICOGENÓLISE hepática.
As
vias gliconeogenéticas (ciclo de cori, alanina glicose) participam pouco da
produção hepática de glicose.
Esta
fase se encerra quando esgotam os estoques hepáticos de glicogênio.
3.
Período pós-prandial tardio (jejum prolongado,
que pode durar até o estado de inanição).
Glicogênio
já exaurido
Gliconeogênese
caracteriza o período
Ciclo
de cori torna-se intenso, bem como o ciclo da alanina e demais vias
gliconeogenéticas.
Inicia
a cetogênese (conversão de ácidos graxos em corpos cetônicos), que pode se
tornar intensa para economizar glicose.
Músculos
reduzem o consumo de glicose como corpos cetônicos (que ficam preservados para
uso cerebral), passando a usar ácidos graxos como substrato energético
principal.
Pode
ocorrer a cetoacidose
O
cérebro aumenta o consumo de corpos cetônicos, pois após 5 dias de jejum as
enzimas necessárias já foram produzidas pelo genoma celular.
Apesar
dessa medida, glicose continua sendo o único combustível da hemácia e o
principal substrato do cérebro.
POUPANÇA
DE GLICOSE: somente cérebro e hemácia estão autorizados a consumir glicose.
O
aviso dado é simples: basta reduzir quase totalmente os níveis de insulina para
que desapareçam os GLUTS 4 das células
alvo de insulina. Com isso, estas células se tornam impermeáveis à glicose.
Determinantes da sobrevivência no
jejum:
Percentual
de proteína corporal (fonte de aminoácidos para a gliconeogênese)
Quantidade
de gordura corporal (fonte de corpos cetônicos para manter cérebro vivo).
Morte sobrevém quando a perda é maior
que 40% do peso original, quando a proteína mobilizável foi toda convertida em
glicose e toda a gordura foi convertida em corpos cetônicos ou consumida pelos
músculos.
Em geral, morrem mulheres com IMC <
11 e homens com IMC < 13.
Regulação Hormonal da Glicemia
Temos
apenas um hormônio regulatório a insulina (único hormônio hipoglicemiante), mas
temos 6 hormônios hiperglicemiantes e apenas 4 contra-regulatórios, ou seja,
quatro hormônios que são liberados devido à hipoglicemia.
A
insulina permite que todos os tecidos possam usar glicose no período absortivo.
Quando a insulina é produzida a menos ou em excesso (mais comum), temos uma
condição clínica chamada diabetes mellitus.
Prof. MSc. Antonio Marcos Motta
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